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quarta-feira, maio 16, 2007

O pus da sociedade ou É gostoso também ser pus

O pus é aquilo que a sociedade finge não ver e prefere não admitir. O escarro escondido do mocinho e da mocinha, o peido aliviante tão seguramente guardado, o sangue pisado de uma ferida ardida, a palavra dita sem pensar, a lágrima reprimida, a gargalhada escancarada, o pêndulo da corisa da criança imunda, o esgoto a céu aberto, o estupro, o furto, o absurdo da cor de cobre do escremento, a bosta fedida de um maluco que caga no meio da rua. O pus sou eu quando não me encaixo na burocracia, quando não tenho hora para as coisas, quando sonho sozinha, quando me masturbo e gozo, quando durmo sem peso na consciência, quando passo horas com a minha gata sem mais nada fazer, quando faço uma mudança muito radical em mim mesma, quando desapareço, quando apareço, quando nem mesmo ao encontrar semelhantes eu me aproximo, quando poderia me utilizar da minha beleza para ganhar dinheiro e não faço, quando desperto da dor para o amor, quando eu sou o instante imediato do alívio e da pressão. Ah que delícia...